Sobre a autora
Dra. Natalia Jatene é médica endocrinologista, mestre na área e tem formação em Medicina do Estilo de Vida. Com uma abordagem acolhedora e individualizada, dedica-se ao tratamento de diabetes , distúrbios hormonais e metabólicos, sempre priorizando a saúde integral e a qualidade de vida dos pacientes. Através do programa Vida +Leve, um plano de acompanhamento em saúde, conduz seus pacientes rumo a uma vida mais saudável, equilibrada e consciente. Além da prática clínica, compartilha seu conhecimento por meio de artigos baseados em ciência, ajudando a disseminar informações confiáveis e acessíveis sobre endocrinologia e bem-estar.

Histórico das insulinas
A descoberta da insulina é uma das maiores conquistas da medicina moderna, revolucionando o tratamento do diabetes. Antes da insulina, o diagnóstico de diabetes tipo 1 era praticamente uma sentença de morte, pois não havia tratamento eficaz para controlar os níveis de glicose no sangue.
Os Primeiros Estudos sobre o Pâncreas
No século XIX, cientistas já suspeitavam que o pâncreas desempenhava um papel no metabolismo do açúcar. Em 1869, o patologista alemão Paul Langerhans identificou células específicas no pâncreas (mais tarde chamadas de ilhotas de Langerhans), mas sua função ainda era desconhecida.
Em 1889, Oskar Minkowski e Joseph von Mering, pesquisadores alemães, removeram o pâncreas de cães e observaram que eles desenvolviam sintomas semelhantes ao diabetes, como aumento da sede e eliminação de açúcar na urina. Isso demonstrou que o pâncreas produzia algo essencial para o controle da glicose.
A Descoberta da Insulina
O grande avanço veio na década de 1920, no Canadá. Em 1921, Frederick Banting, um jovem cirurgião, e Charles Best, seu assistente, conseguiram extrair uma substância das ilhotas pancreáticas que reduzia os níveis de glicose no sangue de cães diabéticos. Eles trabalharam no laboratório do professor John Macleod, que forneceu suporte técnico e estrutura para a pesquisa. O bioquímico James Collip ajudou a purificar a substância, tornando-a segura para uso em humanos.
Em janeiro de 1922, a insulina foi testada com sucesso no primeiro paciente humano, Leonard Thompson, um jovem de 14 anos com diabetes tipo 1. Os resultados foram impressionantes: os sintomas do diabetes regrediram, e a insulina se tornou uma terapia revolucionária.

Evolução da Insulina
Inicialmente, a insulina era extraída de pâncreas de bois e porcos, mas isso apresentava desafios na produção e podia causar reações imunológicas. Na década de 1980, com os avanços da engenharia genética, foi desenvolvida a insulina humana recombinante, produzida por bactérias geneticamente modificadas, tornando o tratamento mais seguro e eficiente.
Hoje, contamos com diversos tipos de insulina, como as de ação rápida, intermediária e prolongada, permitindo um controle mais preciso do diabetes e melhor qualidade de vida para os pacientes.
A descoberta da insulina rendeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1923 a Banting e Macleod (que dividiram o prêmio com Best e Collip), marcando um dos maiores avanços da história da endocrinologia e da medicina.

Apesar de terem sido o primeiro tratamento medicamentoso desenvolvido para tratamento do diabetes e de terem dado nova vida às pessoas que até antes da sua criação estavam fadadas a aguardar a morte por cetoacidose, as insulinas ainda são rodeadas por medos, mitos , estigmas e muitas falácias
Nesse texto vou abordar os principais tipos de insulinas disponíveis no mercado e suas indicações de uso, vem comigo se informar e esclarecer suas dúvidas !

Insulinas de Ação Basal
Essas insulinas são utilizadas para manter níveis estáveis de glicose durante o dia e a noite.
- Glargina
- Duração: 24 horas ou mais.
- Características: Liberação contínua, sem picos significativos.
- Detemir (retirada do mercado):
- Duração: 18-24 horas.
- Características: Liberação gradual, pode ter um leve pico.
- NPH
- Duração: 10-16 horas.
- Características: Ação intermediária com picos de ação.
- Degludeca
- Início de Ação: Aproximadamente 30-90 minutos após a injeção.
- Duração de Ação: Pode durar mais de 42 horas, permitindo que seja administrada uma vez ao dia, em horários flexíveis.
- Perfil de Ação: Oferece uma liberação contínua e estável de insulina, minimizando o risco de hipoglicemia.
Insulinas de Ação Rápida
Essas insulinas são utilizadas para controlar os picos de glicose que ocorrem após as refeições.
- Aspart :
- Início: 10-20 minutos.
- Duração: 3-5 horas.
- Características: Ação rápida para controle pós-prandial.
- Lispro :
- Início: 15-30 minutos.
- Duração: 3-5 horas.
- Características: Semelhante à aspart, com início rápido.
- Glulisina :
- Início: 10-15 minutos.
- Duração: 3-5 horas.
- Características: Ação rápida, ideal para uso próximo às refeições.

Quando está indicado insulina no diabetes tipo 1 e tipo 2 ?
A insulina é um tratamento essencial para o diabetes, especialmente em casos específicos. Aqui está quando ela está indicada para os tipos 1 e 2:
Diabetes Tipo 1
No diabetes tipo 1, a produção de insulina pelo pâncreas é praticamente inexistente. Portanto, a insulina é sempre necessária desde o diagnóstico. As indicações incluem:
- Diagnóstico de Diabetes Tipo 1: Pacientes devem iniciar a terapia com insulina imediatamente após o diagnóstico.
- Cetoacidose Diabética: Em situações de emergência, como cetoacidose, a insulina é vital e geralmente administrada em ambiente hospital via endovenosa.
Diabetes Tipo 2
No diabetes tipo 2, a insulina pode ser necessária em várias situações:
- Quando a Metformina e Outros Antidiabéticos Orais ou injetáveis Não São Suficientes:
- Se o controle glicêmico não for alcançado com medicamentos orais, a insulina pode ser introduzida.
- Aumento da Necessidade de Insulina:
- Em situações de estresse, doença ou cirurgia, pode haver um aumento temporário da necessidade de insulina.
- Hiperglicemia Persistente:
- Se os níveis de glicose no sangue permanecerem elevados, mesmo com a combinação de medicamentos orais.
- Cetoacidose Diabética ou Hiperosmolaridade Hiperglicêmica:
- Em emergências, a insulina pode ser necessária para tratar essas condições.
- Progressão da Doença:
- Com o tempo, muitos pacientes com diabetes tipo 2 podem precisar de insulina à medida que a função das células beta do pâncreas diminui.
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Qual melhor forma de uso das insulinas?
No tratamento do diabetes queremos mimetizar o funcionamento normal do pâncreas , esse órgão responsável pela produção e liberação da insulina é estimulado principalmente durante a alimentação, quando então secreta insulina de forma rápida para que a glicose dos alimentos consiga adentrar as células do nosso corpo ,garantindo assim sua homeostase
Agora que já expliquei como é o perfil de ação de cada insulina, conseguimos entender que o foco do tratamento está no uso adequado das insulinas de ação rápida ( aspart, lispro e glulisina ) , para que não ocorra picos de glicose após as refeições .
As insulinas de ação mais lenta devem ser usadas com equilíbrio para que as glicemias durante o jejum , principalmente ao acordar estejam dentro dos níveis desejáveis, mas nunca em excesso causando indesejáveis e persistentes hipoglicemias .
Portanto o habitual seria usar uma maior quantidade de insulina rápida do que de insulina basal, mas uma relação entre basal/bolus de até 50% está adequada, se você usa uma grande quantidade de insulina lenta e pouca insulina para bolus das refeições suas chances de hipoglicemias severas aumentam assim como de hiperglicemias pós prandiais . Para atingir maiores proporções no uso das insulinas rápidas o paciente deve ser educado a fazer a contagem de carboidratos e correção da glicemia sempre antes de se alimentar , esses dois assuntos serão temas de um próximo post ! Aguardem!!

Fonte – Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes – Ed. 2024